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Autor: Juliano Augusto L. Giaretta; Colaboradores: Bruno B. Barbosa, Gabriela C. Bernardi e José William Vavruk


REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL

O primeiro conceito que devemos definir sobre este tema é que há uma temperatura central – interna ou corporal – e outra cutânea – da superfície de nosso corpo. A primeira está a todo o momento sendo regulada por mecanismos que discutiremos mais adiante, e isso é necessário para que possamos manter essa temperatura em um nível quase constante, que varia, normalmente, em cerca de 0,6ºC.

Suando

Fonte: http://www.gettyimages.com/detail/83589124/Taxi

A temperatura da pele, diferentemente, varia muito de acordo com a temperatura do ambiente e com a parte do corpo em questão.

Como bem sabemos dos livros de biologia, o ser humano é homeotérmico. Isso significa que podemos manter nossa temperatura estável mesmo em condições extremas de frio ou de calor (até certo limite, é claro). Isso é conseguido através da regulação da temperatura, que depende basicamente da relação entre o que se produz e o se dissipa ou perde de calor. E o que produz calor em nosso organismo? Vários são os elementos envolvidos, mas, principalmente, o nosso metabolismo celular. Esse metabolismo, por sua vez, é influenciado por alguns fatores, como a atividade muscular, hormônios que aceleram o metabolismo e o estado alimentar. Durante o exercício físico, é fácil notarmos que a temperatura corporal fica elevada. Outro exemplo é o aumento do calor após uma refeição. Em ambos os casos, há um aumento das reações químicas em nosso organismo.

O outro lado dessa balança é a forma com que perdemos calor. Como vimos, a temperatura externa do nosso corpo pode variar bastante. Isso é muito importante para a dinâmica da troca de calor entre o indivíduo e o ambiente. O calor é produzido em nosso ambiente interno, dentro do organismo, em função de nosso metabolismo. Esse calor, porém, deve seguir em direção à pele e posteriormente em direção ao ambiente externo ao nosso corpo, tudo isso para que nossa temperatura (interna) seja mantida em valores constantes. Assim, fundamentalmente, o que define essa troca é a velocidade que cada um desses “movimentos” ocorre, a saber: a velocidade de transferência de calor do meio interno para a pele e, sequencialmente, da pele para o meio externo.


DE QUE FORMA PERDEMOS ESSE CALOR?

Já nos está claro que o calor é perdido pela superfície externa de nosso corpo. Mas isso acontece de diferentes maneiras, através de fenômenos físicos distintos. Esses mecanismos compreendem a irradiação (que representa cerca de 60% da perda de calor, em média), a condução, a convecção e a evaporação (22% da perda). A irradiação e a condução “movimentam” o calor a partir do objeto que de fato possui mais calor. Isso significa que em ambientes em que a temperatura da pele é menor do que a ambiente, o calor é absorvido pelo corpo. Particularmente importante é o mecanismo da evaporação, pois consiste na única forma com que o calor pode ser perdido para o ambiente quando este possui uma temperatura maior do que a nossa pele. Quando sentimos muito calor, normalmente suamos. Isso possibilita que a evaporação aumente muito, aumentando também a perda de calor pela pele. O controle da produção de suor é, portanto, outro fator determinante da homeostase térmica.


VALORES NORMAIS DA TEMPERATURA CORPORAL

A temperatura corporal (interna), como já referido, varia conforme o local anatômico em que é medida. Portanto, os valores entendidos como normais também variam. A temperatura normal quando a aferição é realizada na axila está compreendida entre 35,5 a 37ºC. Esse é o método mais usual de mensurarmos nossa temperatura. A temperatura bucal (medida com outro tipo de termômetro, próprio para utilização nessa região) considerada normal deve estar entre 36 e 37,4ºC.

C0036822-Hypothalamus in the brain, artwork-SPL

Fonte: http://www.sciencephoto.com/images/download_wm_image.html/C0036822-Hypothalamus_in_the_brain,_artwork-SPL.jpg?id=670036822


TEMOS NOSSO PRÓPRIO TERMOSTATO

Em nosso cérebro, possuímos uma região conhecida como hipotálamo. Essa estrutura é fundamental no controle da regulação da temperatura corporal. O que acontece é que neurônios localizados nessa região são sensíveis a frio ou calor. Quando sentimos calor, alguns desses neurônios são estimulados e produzem respostas que visam diminuir nossa temperatura. Assim, quando esses neurônios (sensíveis ao calor) são estimulados, a sudorese aumenta e, consequentemente, aumentamos a perda de calor. Outras respostas condicionadas pelo estímulo desses neurônios são: a dilatação dos nossos vasos sanguíneos, que representa uma maior possibilidade de transferirmos calor para o ambiente externo; e a inibição de fenômenos que produzem calor, como os calafrios (tremores musculares involuntários). Outros neurônios, sensíveis ao frio, quando estimulados, induzem mecanismos opostos: contração dos vasos, diminuindo portanto a transferência de calor; ereção dos pelos (pouco importante para os homens, constituindo apenas alguma forma de herança adquirida no decorrer da evolução); e aumento da produção de calor com eventos como calafrios ou secreção de hormônios que estimulem o metabolismo corporal.



FEBRE

Manifestação comumente associada às infecções, a febre é uma condição de anormalidade da regulação da temperatura corporal em que o nosso termostato endógeno (do próprio corpo) é desregulado. Os neurônios que respondem ao frio e ao calor, citados anteriormente, continuam a exercer suas modulações, porém agora quando uma faixa superior de temperatura é atingida. Ou seja, se antes os mecanismos de compensação do excesso de calor aumentavam a sudorese ao serem ultrapassadas, por exemplo, temperaturas de 36,5ºC, agora essa compensação só é atingida quando a temperatura se elevar a partir de 38,5ºC.

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Fonte: http://www.sciencephoto.com/images/download_wm_image.html/C002759-Fever_in_a_child-SPL.jpg?id=670020759

Mas o que causa essa mudança? Esse desvio da normalidade decorre da ação de mensageiros químicos denominados pirogênios endógenos. Estes são produzidos por alguns tipos celulares que possuímos, dentre os quais os macrófagos. Outros pirogênios, ditos exógenos, liberados a partir de produtos de microorganismos infecciosos também podem induzir a febre. Os pirogênios interagem com os receptores de neurônios localizados no hipotálamo e produzem prostaglandinas que atuam alterando a função normal do termostato. Com isso, dentro de pouco tempo a temperatura corporal sobe, em vista da ausência de um mecanismo regulador adequado. A febre deve, porém, ser distinguida da situação de hipertermia, que é o aumento normal da temperatura corporal e pode ocorrer, por exemplo, em situações de atividade muscular mais intensa.


A FEBRE É UMA DOENÇA?


A febre é a manifestação de que algo errado está acontecendo em nosso organismo. Discute-se, porém, que a febre possa ter efeitos benéficos para nós. Esses efeitos compreendem o aumento da produção de anticorpos e a redução da taxa de reprodução de microorganismos invasores (ambos em virtude da elevação da temperatura corporal). Ainda assim, a febre muito intensa é perigosa, oferecendo risco de morte quando ultrapassa os 41ºC. Nessa temperatura, muitas enzimas necessárias para nossas reações químicas, bem como outras proteínas, sofrem desnaturação (perdem sua estrutura e, portanto, sua função).



EXPOSIÇÃO AO FRIO EXTREMO

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Fonte: http://www.sciencephoto.com/images/download_wm_image.html/E392072-Climbing_Mount_Erebus,_Antarctica-SPL.jpg?id=693920072

Quando a temperatura interna de um indivíduo começa a cair abaixo dos valores normais, o termostato hipotalâmico começa a se desregular. Com a perda intensa de calor, as reações químicas que ocorrem no organismo desaceleram, e o metabolismo fica bastante reduzido. Em pouco tempo, se a baixa temperatura persistir, as funções neurológicas e motoras se deterioram e o indivíduo pode morrer. Uma situação que por vezes ocorre com praticantes de montanhismo é a hipotermia. Esse quadro é determinado quando a temperatura corporal da pessoa cai abaixo de 35,5ºC (temperatura para aferição axilar).









REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GUYTON, Arthur C.; HALL, John E. Textbook of Medical Physiology. 11.ed. Philadelphia: Saunders Elsevier, 2006. Cap. 73.

NISHIDA, Silvia N. Curso de Fisiologia – Ciclo de Neurofisiologia. Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu. Disponível em: <http://www.ibb.unesp.br/departamentos/Fisiologia/material_didatico/Neurobiologia_medica/Apostila/13_hipotalamo.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2009.

PORTO, Celmo Celeno. Semiologia Geral. 5.ed. Goiânia: Guanabara Koogan. Cap. 7, p.135-141.

WIDMAIER, Eric; RAFF, Hershel; STRANG, Kevin. Vander, Sherman, Luciano's Human Physiology: The mechanisms of Body Function. 9.ed. McGraw-Hill, 2004. Cap. 16.



LINKS RELACIONADOS

Para saber mais sobre a regulação da temperatura e febre: http://www.uff.br/fisiovet/Conteudos/termorregulacao.htm; http://www.medicinenet.com/aches_pain_fever/article.htm

Para saber mais sobre as trocas de calor: http://www.cdof.com.br/fisio11.htm; http://casa.hsw.uol.com.br/garrafas-termicas1.htm

Para saber mais sobre o hipotálamo: http://www.guia.heu.nom.br/hipotalomo.htm; http://medworks1.tripod.com/Fisiologia/regulao_hipotalmica.htm; http://www.sbneurociencia.com.br/draclaudia/artigo_claudia2.htm

Para saber mais sobre hipotermia: http://360graus.terra.com.br/montanhismo/default.asp?did=13739&action=reportagem http://viagem.hsw.uol.com.br/sobrevivencia-no-frio1.htm


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