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Autora: Marion Baldissera Gomes de Oliveira

Colaboradoras: Laís Janeczko e Tamara Caetano


Síndrome dos Ovários Policísticos[]

Síndrome Ovários Policísticos

Fonte: http://www.drcarlos.med.br

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), também conhecida como Policistose Ovariana e Anovulação Crônica Hiperandrogênica, é a endocrinopatia mais comum em mulheres férteis, afetando em torno de 6 a 10% delas. Tem como características principais: ovários com tamanho maior do que o normal, presença de cistos ovarianos, não ovulação (anovulação), irregularidade menstrual e o aumento da produção de hormônios androgênios (hiperandrogenismo)

Etiologia[]

A causa exata da Síndrome dos Ovários Policísticos ainda é desconhecida, no entanto muitos autores relatam que diversos fatores possam atuar em conjunto, desencadeando os sintomas dessa síndrome.

Hipotálamo - Hipófise

Fonte: http://virtualpsy.locaweb.com.br

Um dos mecanismos considerado um possível desencadeador da SOP envolve o hipotálamo, estrutura localizada no diencéfalo capaz de controlar o sistema endócrino corporal através da produção de diversos hormônios, entre eles o GnRH (hormônio liberador de gonadotropinas). Este hormônio, quando liberado pelo hipotálamo, é encaminhado até a hipófise através de vasos chamados porta-hipofisários. A hipófise é uma glândula localizada na sela túrcica que pode ser dividida em duas partes distintas: a hipófise anterior e a hipófise posterior.

Quando a hipófise anterior é estimulada pelo GnRH, ela produz e libera os hormônios FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante). Um dos papéis do FSH é regular a secreção de estrógeno nos ovários femininos. Já o LH regula a secreção de progesterona, também nos ovários. Na Síndrome dos Ovários Policísticos, por razão ainda não totalmente esclarecida, o hipotálamo estaria produzindo GnRH em excesso, estimulando de maneira exagerada a hipófise anterior, o que acarretaria na produção demasiada de LH, mais do que de FSH. Este aumento seria o estimulador da superprodução de andrógenos. A relação da concentração do LH em relação ao FSH apresentada nas pacientes com SOP é de 2:1 a 3:1.

Outros dois mecanismos possíveis envolvem tanto os ovários quanto as adrenais, também conhecidas como supra-renais por estarem localizadas acima dos rins. Um dos mecanismos seria através do aumento da produção e secreção de hormônios androgênicos, tanto nos ovários quanto nas glândulas adrenais, pela desregulação de enzimas responsáveis pela formação desses hormônios. Outro mecanismo seria a atuação da insulina também sobre os ovários e glândulas adrenais. A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que age aumentando a entrada da glicose presente no sangue, obtida através da alimentação, para dentro das células, que utilizam a glicose como fonte de energia. Entretanto, como na Síndrome dos Ovários Policísticos a sensibilidade das células à insulina pode estar diminuída, ocorre um aumento da insulina sanguínea de maneira compensatória. A insulina acaba atuando nos ovários e nas adrenais, estimulando a produção de hormônios esteróides em excesso.

Acredita-se que a origem genética aliada a fatores ambientais, como dieta e atividade física, possam estar relacionadas com o surgimento dos mecanismos citados acima. Desta maneira, a hereditariedade também é cogitada como uma possível causa da SOP.


Sinais e Sintomas[]

Na Síndrome dos Ovários Policísticos, os principais sinais e sintomas são: ovários com o volume aumentado, cistos ovarianos, não ovulação (anovulação), irregularidade menstrual, hirsutismo, acne, alopecia frontal, acantose nigricans, resistência à insulina e hiperinsulinemia. Cerca de 90% das pacientes que apresentam ciclos menstruais irregulares possuem a Síndrome dos Ovários Policísticos. Existem diversos tipos de irregularidades menstruais. Os tipos mais presentes na SOP são a oligomenorréria e a amenorréia. Oligomenorréia é o aumento do intervalo do ciclo menstrual em mais de 35 dias. Já a amenorréia é a ausência da menstruação.

O hirsutismo é um dos sintomas que pode afetar as relações de convívio das pacientes com SOP, visto que hirsutismo é a presença de pêlos mais grossos em locais masculinos do corpo. Outros sintomas que podem afetar a paciente com SOP tanto socialmente quanto psicologicamente são a alopecia frontal, a acne e a acantose nigricans. Através da chamada Escala de Ferriman e Gallwey é possivel enquadrar a paciente em 4 níveis de hirsutismo, de acordo com a pontuação obtida: normal (pontuação < 8), leve (pontuação entre 8 e 16), moderado (pontuação entre 17 e 25) e severo (pontuação > 25). Para a determinação da pontuação é analisada a intensidade da presença de pêlos em regiões como face, tórax, abdome, dorso, coxa e genitália.

A alopecia frontal é a queda de cabelo que ocorre na região frontal do couro cabeludo, característica tipicamente masculina. No entanto, tal sinal não é muito comum na SOP. Já a acne está bastante presente nas pacientes com a Síndrome dos Ovários Policísticos, sendo decorrente do aumento da produção de sebo pelas glândulas sebáceas, que, por ocasionar maior oleosidade na pele, acaba propiciando o aparecimento de cravos e espinhas.

A acantose nigricans é uma espessa mancha cutânea bem pigmentada e de característica aveludada que pode estar presente principalmente nas axilas, mas também abaixo da mamas, na nuca, na vulva e na face interior das coxas. Esta lesão é decorrente da estimulação da insulina sobre a camada basal epitelial em razão da hiperinsulinemia.

A resistência à insulina é mais encontrada em pacientes obesas, no entanto pode estar presente também nas não obesas. Ela é encontrada em 50% das mulheres com a Síndrome dos Ovários Policísticos. Pode ser definida como a falta de sensibilidade dos tecidos periféricos à insulina. Quando a insulina se liga em receptores específicos nas células teciduais, ela acaba estimulando a célula a captar mais glicose para seu interior. A diminuição da sensibilidade periférica à insulina é a redução da captação de glicose pelas células, mesmo que a insulina esteja ligada em seus receptores específicos. A superprodução de insulina pelo pâncreas ocorre para tentar compensar a insensibilidade (hiperinsulinemia).


Patologias e Alterações[]

As principais patologias e alterações presentes nas pacientes com Síndrome dos Ovários Policísticos são: infertilidade, Hipertensão Arterial Sistêmica, doenças cardiovasculares, Síndrome Metabólica, sobrepeso e obesidade, dislipidemia, aterosclerose, Diabetes Mellitus tipo 2, crescimento endometrial exagerado (hiperplasia), câncer de endométrio, câncer de ovário e câncer de mama.

Em torno de 30 a 40% dos casos de infertilidade em mulheres estão associados a Síndrome dos Ovários Policísticos. A infertilidade está relacionada principalmente com a não ovulação ou com as irregularidades do ciclo menstrual.

A Hipertensão Arterial Sistêmica, pressão arterial acima de 140x90 mmHg, é muito incidente nas pacientes com SOP. A hipertensão, juntamente com a Síndrome Metabólica, a obesidade, a dislipidemia e a aterosclerose, são fatores de risco que podem ocasionar doenças cardiovasculares nas pacientes afetadas, como o infarto agudo do miocárdio.

Síndrome Metabólica é um termo médico utilizado para englobar diversas características que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A prevalência na Síndrome dos Ovários Policísticos é de 37 a 47%. A presença de 3 critérios, dentre os descritos abaixo, confirmam o diagnóstico de Síndrome Metabólica:

  • Circunferência abdominal acima de 88 cm;
  • Triglicerídeos maior ou igual a 150 mg/dl;
  • HDL menor que 50 mg/dl;
  • Pressão arterial maior ou igual a 130x85 mmHg;
  • Glicemia de jejum de 110 a 126 mg/dl ou glicemia 2 horas após 75 gramas de dextrosol de 140 a 199 mg/dl.

O sobrepeso e a obesidade estão muito presentes nas mulheres com a Síndrome dos Ovários Policísticos. A presença de IMC (índice de massa corporal) > 27, indicando sobrepeso, está presente em 65% das pacientes com SOP. Já a presença de IMC > 30, indicando obesidade, está presente em mais de 50%. Estima-se que a perda de 5 a 10% do peso corporal pode provocar melhoras nos sintomas da SOP.

A dislipidemia tem como característica o aumento dos triglicerídeos, o aumento do colesterol considerado ruim (LDL) e a redução do colesterol considerado bom (HLD). Ela está presente em 70 a 75% das pacientes acometidas e possui íntima relação com o desenvolvimento de aterosclerose. A aterosclerose é o acúmulo de placas ateromatosas na íntima dos vasos sanguíneos, que pode levar a uma obstrução do fluxo sanguíneo, lesão do vaso ou desprendimento da placa do vaso, podendo ocasionar obstrução do fluxo sanguíneo em outra região.

A prevalência de Diabetes Mellitus tipo 2 na Síndrome dos Ovários Policísticos varia de 7,5 a 10%. Esta patologia é causada principalmente pela resistência à insulina e pela obesidade, muito presentes na SOP.


Critérios Diagnósticos[]

O Consenso de Rotterdam (2003), realizado pela Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE) e pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) em Rotterdam, Holanda, definiu alguns critérios diagnósticos para a Síndrome dos Ovários Policísticos. De acordo com os critérios estabelecidos por esse consenso, a SOP pode ser diagnosticada quando ao menos 2 dos 3 sintomas seguintes estão presentes:

  • Oligo ou anovulação;
  • Sinais clínicos e ou bioquímicos de hiperandrogenismo;
  • Ovários policísticos à ultrassonografia: 12 ou mais folículos medindo 2 a 9 mm de diâmetro ou volume ovariano aumentado (> 10 cm3).


Gestação e Síndrome dos Ovários Policísticos[]

Gestação

Fonte: http://revistacrescer.globo.com

A gestação em mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos, quando confirmada, requer alguns cuidados especiais, visto que as pacientes apresentam um risco maior para abortamento e maior probabilidade de desenvolverem diabetes gestacional. O pré-natal e o acompanhamento médico devem ser realizados de maneira mais cuidadosa nesses casos.

O estímulo ovariano, necessário em muitas pacientes com SOP que desejam engravidar, pode ser realizado com o uso de medicamentos prescritos pelo médico, que requerem acompanhamento do crescimento do folículo ovariano para a indicação do melhor momento para a realização do ato sexual. Alguns dos medicamentos utilizados são o citrato de clomifeno e as gonadotrofinas.


Tratamento[]

Exercício Físico

Fonte: http://mauriliocavalcanti.blogspot.com

O tratamento na Síndrome dos Ovários Policísticos visa controlar a irregularidade menstrual, a resistência à insulina e tratar o hirsutismo clínico. Cada paciente deve ser avaliada individualmente pelo médico, já que o tratamento deve ser específico para os sintomas apresentados.

Para o controle da irregularidade menstrual é indicado a redução do peso corporal através da prática de atividades físicas e alteração da dieta. O uso de medicamentos, como anticoncepcionais orais combinados e progestágenos, também pode ser prescrito pelo médico para controlar a menstruação irregular.

A resistência à insulina pode ser controlada com o uso do medicamento metformina. Já o hirsutismo clínico pode ser tratado com os fármacos acetato de ciproterona, finasterida e espironolactona.



Fontes Bibliográficas[]

  • FREITAS, Fernando; MENKE, Carlos Henrique; RIVOIRE, Waldemar Augusto; PASSOS, Eduardo Pandolfi. Rotinas em Ginecologia. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. cap. 49. pág. 517-28.
  • HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S,; BRAUNWALD, Eugene; KASPER, Dennis L.; HAUSER, Stephen L.; LONGO, Dan L.; JAMESON, Larry; LOSCALZO, Joseph. Harrison Medicina Interna. [tradução Ademar Valadares Fonseca, Carlos Henrique de Araújo Consendey, Denise Costa Rodrigues e outros]. 17. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2008. pág. 301, 304, 306, 2195, 2282, 2331.
  • BARCELLOS, Cristiano Roberto Grimaldi. Influência da síndrome dos ovários policísticos e da obesidade em parâmetros vasculares relacionados ao processo de aterogênese. São Paulo: USP, 2008. 198 f. Tese (Doutorado em Ciências), Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
  • YARAK, Samira; BAGATIN, Ediléia; HASSUN, Karime Marques; PARADA, Meire Odete Américo Brasil; FILLHO, Sérgio Talarico. Hiperandrogenismo e pele: síndrome do ovário policístico e resistência periférica à insulina. Anais Brasileiros de Dermatologia, 2005, 80(4):395-410. Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina. São Paulo, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abd/v80n4/v80n4a11.pdf Acesso em: 19 nov. 2010
  • KUBA, Valesca M.; CAVALIERI, Patricia M.; CHRISTÓFORO, Ângela C.; JUNIOR, Raul F.; CAETANO, Rosângela; COELI, Cláudia M.; ATHAYDE, Amanda. Resistência insulínica e perfil metabólico em pacientes com síndrome dos ovários policísticos de peso normal e sobrepeso/obesidade. Arq Bras Endocrinol Metab vol.50 no.6 São Paulo Dec. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abem/v50n6/a08v50n6.pdf Acesso em: 19 nov. 2010
  • NACUL, Andrea; COMIM, Fabio; SPRITZER, Poli M. Aspectos neuroendócrinos na síndrome dos ovários policísticos. Arq Bras Endocrinol Metab vol.47 no.4 São Paulo Aug. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abem/v47n4/a15v47n4.pdf Acesso em: 20 nov. 2010



Links Relacionados[]

  • Tratamento da infertilidade em mulheres com síndrome dos ovários policísticos - [1]
  • Resistência à insulina em mulheres com síndrome dos ovários policísticos modifica fatores de risco cardiovascular - [2]
  • Prevalência de síndrome metabólica em pacientes sul-brasileiras com síndrome dos ovários policísticos - [3]
  • Síndrome da anovulação crônica hiperandrogênica e transtornos psíquicos - [4]
  • Mais Informações sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos - [5]
  • Mais Informações sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) - [6]
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